A BELEZA VIVA GANHOU DA MORTE CRUEL DE ONÇAS POR DINHEIRO.
“A ponta da ilha media uns 1.500 metros. Era infestada de onças pretas, daquelas perigosas. Os cachorros recusavam caçar naquelas paragens".
Assim começou a me contar um idoso, acamado por um AVC que o deixou paralítico, mas sem nenhum sinal de Alzheimer. Contou-me, em boa parte daquela tarde, relatos de suas aventuras do tempo que fora caçador de onças para vender a pele. Ganhou dinheiro, mas não tanto em comparação ao risco de vida, que por diversas vezes até pensou. que a onça ferida e quase sem vida, erguia-se de dentes arreganhados para defender-se e atingi-lo.
Disse-me que perdeu dois cachorros velozes e valentes nessas circunstâncias. Considerou que os cachorros o livraram da morte. Certa vez, ainda sofreu um arranhão profundo no braço e por milagre escapou. Quis mostrar-me a cicatriz, mas não consegui ver. Seria imaginação?
A arte da matança, segundo meu idoso, exigia habilidade e escolha certeira do local do tiro. O tiro na cara da onça deixava o couro mais valioso, alcançando com ele um bom preço na hora de netregar para o patrão. O perigo era o confronto do animal vindo para cima com as patas abertas a fim de desferir desferir um tapa. Quando o tiro alcançava também as patas dianteiras, a pele não perdia o valor. Claro que quanto maior fosse o tamanho da pele sem furos, melhor o preço. Porém era muito difícil matar uma onça apenas com um tiro, a única vantagem acontecia quando já caída, novos tiros eram despejados na cabeça, até elas perderem o movimento e os esturros cessarem ao morrer. Imaginem quão dolorosa era aquela morte cruel e ilegal!
Perguntei se alguma vez sentira remorso de ser matador de onças, de gatos maracajás e outros animais. “Negativo”, respondeu-me. “Era um tipo de encanto que sentia, uma hipnose que aquelas pintas causavam em mim. Confesso ser irresistível. Parece que não tinha outra alternativa. Ou eu matava ou morria.”
Certa vez, na cidade, o caçador foi até a casa do seu maior comprador e ficou admirado com tanta beleza e atração, pelo que viu decorando a casa: “um misto de tristeza, pela primeira vez ocupou meu coração”, testemunhou. Perguntou o que fazia com as peles e os dentes que arrancava e que já trouxera. A resposta foi seca: “serve para os artigos de luxo, bolsas, calçados, jaquetas, cintos e acessórios, tais como joias feitas com os dentes”.
Depois de visitar o comprador e saber das utilidades das onças, foi acontecendo uma reviravolta na vida do meu velho caçador de onças. A luz da beleza foi trocando por sua admiração. O que antes parecia uma conquista ao contemplar a onça morta, não mais o atraía. Aí, veio-lhe a beleza do animal vivo em plena floresta. A morte deu lugar à vida. A “beleza” utilitária econômica da pele perdeu para a exuberância do animal vivo.
No final de nossa conversa, foram essas as palavras do velho paraplégico, completadas por mim. “As onças-pintadas e as pretas são da criação de Deus. O sonho de Deus é a harmonia entre todos os bichos que deixarão de ser ferozes. Inclusive o ser humano deixará de ser feroz, violento e promotor da morte”.
Aproveitei o momento de lucidez e arrependimento para abrir a Bíblia e ler o sonho que dois profetas legaram como a sabodoria para alimentar nossa esperança de PAZ contra toda a forma de violência.
Isaías 65,25: “O lobo e o cordeiro se alimentarão juntos, e o leão comerá feno, do mesmo modo que os bovinos se alimentam, mas pó será a comida da serpente! Ninguém fará o mal, tampouco praticará qualquer tipo de ação destrutiva em todo o meu santo monte!”
Ezequiel 34,25 “Eis que celebrarei uma Aliança de Paz com as minhas ovelhas e deixarei a terra livre de animais ferozes a fim de que o meu rebanho possa viver em segurança e tranquilo no deserto e dormir em paz nas florestas”
Apenas completando a história do Amigo. Ao visitar uma comunidade Indígena Baré me deparei com um filhote de um um belo exemplar de onça pintada em um gaiolas... Me contaram a história do garoto pintado... Ah! Padre! É comilão!... Todo dia tenho que pescar prá nós dois. E gentilmente me perguntou "quer de presente ". Quero. Dois entrando na casa de um e de outro. Uma palavra de cá e de lá... E Batizados e Casamentos e Kariamãs. Uma festa. E lá fomos nós para a "voadeira" ... Nirtinho... Comandante Ubaldo Baré o prático conhecedor nato das calhas do Rio Negro. Um Mito.
E lá fomos para São Gabriel. Eita... onde colocar a onça do São Francisco. O Projeto Ro…