top of page

DE DELÍRIO GEOLÓGICO PARA UM SONHO ECOLÓGICO



Viajei muito pelo médio Rio Solimões entre as divisas de Codajás e Tefé, Am. Observava sempre da proa do barco as margens, centrando o olhar para a cor da terra, os barrancos caídos, as águas entrando nas matas nas enchentes e as praias nas vazantes. Minha mente viajava no tempo imaginando a formação geológica da região nos milênios anteriores. Pensava nos habitantes que povoaram esses lugares, os omáguas e os várias grupos étnicos que a história registra e que os sítios arqueológicos confirmam. Uma das verdades desses povos era a harmonia de convivência com a floresta e com o rio. Vida simples de caçador e pescador, de agricultura básica para sobreviver sem desperdícios. Exemplo para nós consumidores, que descartamos lixo e envenenamos a natureza!

As terras firmes são coloridas. Mostram-se barrancos altos em tons variados de argila. Tabatinga (barro branco) como eu chamava como criança, à beira do rio entre pedras jacarés (pedra furada como se fossem olhos fundos das feras do rio, olhando para mim). Lembro de tabatingas de todas as cores protegendo os olhos d'água. Choravam de alegria, animando crianças no tempo em que não havia massinha artificial em formato de bichos do rio e da floresta.

Perdido nas imagens da infância ribeirinha e na vida adulta que tudo questiona, navegava contemplando os barrancos altos, comuns de um lado apenas do rio, enquanto, do outro lado, a várzea de terra lavada.

A formação geológica da região se deu como resultado do trabalho das águas que dos Andes desciam escavando o chão e encontrando um trajeto facilitado para chegar ao mar. Vinha-me à imaginação, que por milhões de anos, existiam lagos imensos e pequenas montanhas no Vale Amazônico. Os barrancos altos e vermelhos atiçavam-me a essas conjecturas.

Perto de Coari, à margem esquerda, bem antes da entrada do lago, por onde às aguas correm velozes e mais em baixo, encontramos as "barreiras" que fazem uma curva acentuada, mostrando que foi moldada pelas forças das águas e fez seu caminho. Vinha a pergunta filosófica que me punha em dúvida sobre a agudeza da violência. Seriam as águas tão cruéis a ponto de derrubar as terras das margens ou estas tão opressoras que estreitam os rios?

A esta pergunta se somam outras que, se respondidas, ensinaríamos a respeitar os cursos das águas que cortam as cidades, evitando enchentes e o sofrimento do povo mais pobre das baixadas. Manaus, a cidade das águas refrescantes não seria a capital do calor e a sucursal do inferno.

Aqui em Manaus, os anjos padecem com a quentura do sol escaldante, cada dia mais cruel por conta da devastação da floresta. Nossa Amazônia, nesse ritmo acelerado, não irá mais derrubar barrancos, pois cada vez mais degradada e morrendo se transformará num deserto em luto ou em lamaçal de águas povoadas de doenças com seu povo em extinção. Salvemos nossa Casa Comum! Deus assim o quer como no Primeiro dia da Criação!







Comments


Olá, que bom ver você por aqui!

Sou um parágrafo. Clique para adicionar o seu próprio texto e editar. Sou um ótimo espaço para que seus usuários saibam mais sobre você.

Fique por dentro de todos os posts

Obrigado por assinar!

  • Facebook
  • Instagram
  • Twitter
  • Pinterest
bottom of page