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EVANGELHO DE UM CANA-AFETIVO, POBRE, IDOSO E MORADOR DE RUA.

Encontrei um amigo. Era um domingo que trazia uma linguagem "apocalíptica" nas leituras da Bíblia. A intençao era para despertar a esperança dos discípulos de Jesus da segunda geração de seguidores de Jesus. Linguagem assim, com fogo no céu e queda dos astros para trazer a esperança, diante das perseguições que sofriam, para continuarem a fazer o bem e protestar contra as injustiças do sistema religioso e político.

Passagens apocalípticas que descrevem os abalos dos astros que cairiam sobre a Terra, trazendo o fogo para devorar os opressores do sistema político romano.


O que aconteceria com os cachaceiros, refugiados e descartados do mundo?

Entretanto, tive uma surpresa e uma experiência que fala da santidade, fora do padrão da meritocracia.


(Dou crédito a fotógrafa Gisele Braga Alfaia) Instagram: @giselealfaia


Aconteceu que, nesse dia, eu ainda impressionado com as passagens apocalípticas, encontrei um amigo escondido num canto de escada, sentado num batente, à espera de abertura do pequeno comércio, onde, em cada manhã, fazia plantão para comprar sua garrafinha. Era um amante do álcool, apelidado de "cana-afetivo" para não chamá-lo de cachaceiro.


Logo, vieram mais dois 'bem-te-vis" alegres, com uma sacola de mangas, abastecidos de cachaça. O amigo pediu um gole, mas não teve sucesso. Desistiu de esperar. Não abriram o boteco.  Daí, convidou-me para ir mais adiante, até conseguir comprar seu abastecimento. Mais à frente, pelas ruas desertas, conversamos e paramos na porta do pequeno supermercado. Disse-me que ia comprar uma lata de feijoada. Disse-lhe eu: "Espere-me aqui que vou pegar tua bermuda". Fui e voltei. "Deixa comigo a lata de feijoada também". 

 

Alguém passou e entregou um Novo Testamento dos Gedeões. Fizemos uma partilha do pão e procuramos no evangelho a passagem da Última Ceia de Jesus e seus discípulos. Juntou-se a nós um outro amigo na mesma triste situação. Ficamos assim sentados na calçada, De repente, este outro amigo correu e foi socorrer uma mulher com o braço quebrado. Completava-se assim a partilha do pão.


Voltamos a caminhar. Eu queria ter certeza se o meu amigo "cana afetivo" dormia mesmo no banco da praça. Dessa vez, tive certeza, pois confessou e chegamos até lá. Ele falava de uma senhora caridosa que esquenta sua comida, quando consegue e o socorre nos apertos maiores. Ela dá apoio, pois foi a quem ele entregou a lata de feijoada para esquentar, e receber dela uma porçao de arroz e farinha.


Momento revelador e místico aconteceu, quando abriu a pequena Bíblia dos Gedeões e começou a rezar, em voz meio baixa. Misturava palavras que lia com outras que saíam do coração e da memória, em extrema piedade, chorando e chamando Deus, como fez Jesus. "PAI"! Agradecia muito e pedia pelo bem de quem o ajudava na vida. Tive a impressão que lia as palavras movidas pelo Espírito de Jesus em seu coração de pobre e impotente diante do álcool. Sem ele ver, fiz uma gravação de 22 segundos, que nem notou. Ele lia:"Se eu estiver aqui e você lembrar de mim, seu caminho será o meu ... sua paz, seu amor, seu carinho... esse é de S. Francisco".


Tenho notado que a gratidão é algo de extraordinário na vida desses meus amigos que dormem e acordam ao som das aves, nas folhagens que dão sombra e os abrigam da chuva. Depois, puxou do bolso um dinheiro e me contou a gratidão que sentia e o que acontecera na noite anterior. Parou um carro grande e um jovem bem sucedido veio até ele. Entregou um presente que a sua mãe mandara, lembrando que ela era grata porque quando foi gerente do restaurante do pai, viveu honestamente na função, gerando assim muito lucro para o seu marido.


Meu amigo estava feliz, sabia-se amado, embora queixoso de seus familiares. Seu dia de pobre foi diferente. Eu também me declarei agradecido por ter me ensinado a rezar e a ler nos olhos dos que sofrem a ternura de Jesus.

Lembrei-me do Salmo 15 que revelava a fé que os pobres, como o meu amigo, professam.


"Guardai-me, ó Deus, porque em vós me refúgio!

Ó Senhor, sois minha herança e minha taça, meu destino está seguro em vossas mãos! Tenho sempre o Senhor ante meus olhos, pois se o tenho a meu lado não vacilo."


Eis porque meu coração está em festa, minha alma rejubila de alegria, e até meu corpo no repouso está tranquilo; pois não haveis de me deixar entregue à morte, nem vosso amigo conhecer a corrupção".


(Foto de Gisele B. Alfaia, a quem sou muito grato)


1 Comment


Ediene Amorim
Ediene Amorim
May 25, 2024

Muito bom Nelson !

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