MEMÓRIAS AGRÍCOLAS, AMOR SEM RETORNO E UMA EDUCAÇAO VERDE
TInha escutado histórias sobre os nascidos na Provincia de ÁVILA, Espanha do velho mundo. No dia de Santa Tereza de Jesus (15.10), escutava aqueles que, na idade avançada, abriam o coração e deixavam a memória flutuar. Estes que, aqui relato, contaram-me experiências preciosas, mas depois de ganharem confiança e sentiram-se amados e valorizados pela atenção. Antes, encontravam-se comigo e quase sempre queriam me contar piadas, brincar de mentir e ouvir músicas. Eu entrava em sintonia com eles. Mas o tempo foi passando, até que, no dia de Santa Teresa D’Avila, mestra das coisas simples de Deus, foram tocados com a serenidade da fé, capaz de olhar as experiências e os desafios da vida com os sentimentos de Jesus.
Escutamos a canção, em homenagem a Santa Teresa, com os versos saídos de sua alma confiante no amor de Deus: “Nada te perturbe, Nada te espante, Tudo passa, Deus não muda, a Paciência tudo alcança; Quem a Deus tem, Nada lhe falta: Só Deus basta”.
Estou certo que esta profissão de fé de Teresa mobilizou o pensamento para que os três idosos, sentados ao meu lado, falassem o que chegava em suas mentes, misturando saudades e esperanças, fantasias e acontecimentos do passado de cada um. Eu os estimulava a falar com algumas perguntas. Afirmo que a sabedoria deles vem do céu, trazendo luz e lições de vida.
O Gê é um tefeense do médio Rio Solimões, onde Santa Teresa é a padroeira feminina da cidade, distante no tempo e de seu lugar de origem, foi lembrando dos seus conterrâneos que vinham daquela cidade para serem alunos da Escola Agrícola de Manaus.
Ele conhecia alguns jovens de Tefé, que foram internados nesta Escola e tiveram a oportunidade de redescobrir o valor da agricultora nativa, junto com as técnicas de plantio e da produção de frutas, legumes e verduras, tubérculos, e entendessem também um pouco da criação de porcos e de galinhas.
Meu amigo Gê contou sua experiência na Escola Agrícola de Manaus, não sabendo bem qual a época ou ano em que morou por lá, como “intruso”. Depois eu conto. Mas, desde 1941, quando foi iniciada teve vários nomes, com as mudanças da gestão, passando pelo nome de Escola Agrotécnica Federal de Manaus. Em 2009, se tornou IFAM – Campus Manaus Zona Leste. Segundo meu amigo, ele procurou os jovens de Tefé, AM e foi ficando, mesmo sem ser aluno, assistindo as aulas, cultivando e cuidando do plantio, junto dos alunos que vinham de vários municípios do Amazonas. O Diretor da Escola foi aceitando-o porque viu que era importante a presença de um adulto para todos os alunos.
Com a inspiração de Santa Teresa, o meu outro velho amigo chamava-se Sam, um motorista dos velhos tempos dos ônibus de madeira, verdadeiras obras de artesão. Ele lembrava que dirigiu caminhões de partida com a força humana, usando manivelas. Sua história contém um amor genuíno e gratuito. Cansado de viver sozinho, viu a casa de uma viúva pegando fogo e resolveu ajudá-la a construir uma outra casa e a criar suas duas filhas, com todo o respeito e generosidade, chegando a pagar o Colégio Dom Bosco para uma delas. Conta com tristeza a quem ajudou, pois virou orgulhosa, mas foi a outra enteada que o amou de verdade como pai.
Não se arrependeu de ter deixado de cuidar daquela família, que o permitiu partir. Foi morar sozinho, perto de uma oficina de carro velho, onde trabalhava de mecânico. Disse-me que comprou muito leite para as mães sem marido, que pediam dinheiro. Até me contou, sem misoginia, que aquelas que não sabem quem é o pai dos filhos, procuram aqueles homens que podem ajudar, dizendo que os filhos eram deles. Nunca se importou com isso e as ajudava sempre, fazendo quase o impossivel.
A senhora mais idosa, alquebrada, iluminada como o sol, contou-me de certa “escola de tempo integral” dos anos passados, tinha uma diretora que convocava os alunos para ajudar no projeto de cultivação de hortaliças. Recorda que, às sextas-feiras, fazia uma cesta de mantimentos, colocando feijão, arroz e um pedaço de queijo. Entregava para cada aluno levar para a casa a fim de comer com a familia, ensinando que educação tem tudo a ver com a melhoria de vida, a superação da pobreza e uma vida de direitos iguais.
Essas três personagens reais, que me revelaram gestos de bondade, apontam para um mundo mais fraternal que devemos nos comprometer e construir, enquanto podemos professar a fé, no que disse Jesus: “O que fizeres a um desses pequeninos irmãos, a mim o fizestes" (Mt.25,40).
Santa TERESA D'ÁVILA, socorre-nos com sua sabedoria, tão reconhecida pela Igreja! Ensina-nos a ver a bondade de Deus, Senhor da Paz e Mestre da Justiça aos oprimidos!
Obs. Fotos creditadas a Ana Claudia P. Leal e a Gisele B. Alfaia
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