NESTE NATAL DE 2024, BRINCANDO E ALEGRANDO CORAÇÕES IDOSOS.
Nas manhãs ligeiras ou nas tardes de sombras, encontro amigos de idade igual à minha, para folgar e conversar, rezar e brincar de mentir. As histórias chegam em formas variadas, algumas dramatizadas e outras até cantadas.
O chão dos enredos são da origem da gente, que pode ser de Canutama, Tefé e Itacoatiara, no Amazonas. Os rios contornam as "lendas", espantam os bichos e trazem o humor da mãe Gê, a única mulher nas conversas sobre aventuras e casos mirabolantes. São muitas "invencionices" que nos fazem rir e gargalhar, respirar forte e gritar. O grande assunto era o carapanã, "que ninguem chama, mas é ele que vem beijar a mão e o pescoço do cidadão".
1. Conta-se que, certa vez, na praia, em frente da cidade de Tefé, no final de uma tarde quente e de um saboroso peixe espinhento, três amigos não paravam de espantar carapanãs, desses teimosos que chegam entrando pelo nariz e pousando nas orelhas. Um dos três disse que não aguentava mais e queria ser o matador dos bichos voadores que planavam e, pousando, arrancavam qualquer paciência que restava.
Propôs jogar "porrinha", em que se usam pedaços de papel, moedas, feijões ou palitos quebrados (algo pequeno que possa ficar facilmente escondido dentro da mão). Mas, naquele momento, à beira de lago, se usaria os bichos voadores. Combinaram que levantariam as mãos abertas, dando sopapos no ar e fechando as mãos, apertando-as. Daí, era adivinhar quantos carapanãs tinham amassados nas mãos. Quem acertasse o total ou o mais próximo dele ia levar a canoa para o lago, longe dos bichos ferradores.
2. Conta-se que, certa vez, duas mulheres lavavam roupa à beira do Rio Purus. Uma se queixava da espinha da costela de tambaqui que estava presa na "goela". Mais do que depressa, um pescador pegou uma zagaia e puxou a espinha do peixe, porque não tinha um pé de cabra por perto.
3. Pois é, mais uma história cabulosa onde carapanãs, tipo suvela de sapateiro, furavam até jornal de fiel, que colocava debaixo do corpo para dormir sossegado . Mas fazia calor e a rede era vermelha. O velho esperto foi à beira do rio molhar a rede e, depois de armar, voltou a dormir com lamparina acesa para espantar os bichos.
Ao amanhecer, passou a mão na costa e, apalpando, sentiu-a como um tábua de pirulito. Examinou o jornal que estava pinicado de furinhos pretos. Não deu para duvidar, pois além de sugar a vermelhidão da rede molhada, os carapanãs esquentavam o bico e furavam o jornal. Para espanto, a rede ficara branca. Foi constatado o grande engano dos bichos. Não era sangue e nem vela, mas a lamparina para apagar e deixar os carapanãs frustrados.
Assim, passamos uma boa parte da manhã, rindo e alegrando o coração. Às 10 horas, chegou uma senhora gentil que fazia muitos anos que trazia o melhor pão da cidade e distribuía para nós, que batíamos aquele papo descontraído. Continuamos assim e, com o café com leite trazido por um parceiro, partilhamos saboreando o pão, lembrando o Dia Mundial da PAZ. Um domingo para abraçar e perdoar, conviver com as diferenças e dar as mãos para cantar: FELIZ NATAL E SAÚDE NO ANO NOVO!
Se fosse o Dia Mundial dos Idosos, seria para dar parabéns a eles, mas sem deixar de lutar contra o abandono e a miséria que crescem no mundo, devido à concentração de renda e à acumulação de bens nas mão de poucos, deixando muitos sem condições de um envelhecimento saudável.
Um amigo setentão ao ler essa crônica profetizou: "Não se perde tempo com 'conversa fiada', mas ganham-se alegrias e amizades entre as gerações. Aqui estamos felizes sentindo as alegrias do Natal, pois temos certeza de que Jesus sorriu quando nasceu, gargalhou entre amigos e anunciou a maior notícia: ELE CHEGOU TÃO HUMANO E DIVINO PARA FICAR NO MEIO DE NÓS."
"Eis que estarei convosco até o fim dos tempos".
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