OLHOS NÃO ESQUEÇEM O AZUL, NEM A CEGUEIRA APAGA O SOL
Um trabalhador que me parecia cansado e distraído, com o seu quê fazer rotineiro, passou e nem olhou para dentro da Capela do Plaza Shopping. Fui até a porta para vê-lo distanciar-se. Para minha surpresa, ele tinha lido o letreiro em metal "SANTÍSSIMO SANTUÁRIO DE MARIA". Entrei na conversa do seu coração, que devia estar ardendo e falei do Natal e das personagens do presépio: Jesus, Maria e José, os bichos que baforavam um calor naquele frio do campo. “Vamos entrar!” Ele deu um passo para trás, e foi me falando do seu amigo cego. Disse que o amigo lembrava do Santuário aberto e dos santos nos nichos. Tem lembrança de quase tudo, ali posto com bom gosto. Saudade de sua visão, tão rapidamente cessada e a dor da alma, difícil de passar. Deus sabe o que ele sente e o que nunca vai lhe faltar.
Escutara, várias vezes, do amigo cego a descrição dos fins da tarde nos rios. Nunca ouvira dele que o sol piscara quando anoitecia, mas garantiu que vira pássaros numerosos escurecendo o céu, enquanto passavam para descansar nos galhos emaranhados da floresta. Dizia que, na cidade, precisava de lembranças felizes que o fizessem reviver. Era o que alimentava sua mente na nova situação em que se encontrava.
Depois de falar do amigo, saiu e disse que voltaria com o seu visionário cego para uma visita. Dito e feito. Estávamos nos despedindo, quando reaparece o nosso deficiente visual, sendo trazido pelo amigo que passara antes. Chegou de óculos escuros, mas com rosto sereno, sem sinais de mágoa.
Anos com cegueira, ocorrida repentinamente. Perguntei se já estava acostumado, respondendo-me que não.
Nesse momento, fiz silêncio, mas sem me conter fui repetindo palavras de fé e um toque carinhoso, como benção sobre a cabeça. "Jesus, Luz, Clarão e Sol sem noite, estava com ele. As trevas estavam nos olhos, mas seu interior cheio de luz, de lembranças da natureza em festa e das cores do dia, do verde com seus tons, do sol em despedida agradecido para renascer no outro dia."
Talvez, eu devesse ter ficado calado, mas notara que o amigo do "visionário cego" deu-me a entender para que eu falasse palavras de ânimo, repetindo mensagens da boca do próprio Jesus: "EU SOU A LUZ DO MUNDO. Neste mundo, vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo” (João 16:33).
Parecia que eu era um hipócrita, ao dizer essas palavras em tom otimista para encarar a realidade da cegueira. Porém, acredito que para os cegos as palavras se tornam realidade. As palavras concebem imagens com contornos de esperança e fé. E assim, consolei-me com minha "hipocrisia". O que eu poderia ter feito? Não seria melhor escutá-lo em sua frustração por não mais poder ver o Santuário em sua modesta e acolhedora beleza?
Já passamos mais um Natal, estando todas as terças-feiras, no Santuário do Manaus Plaza Shopping, com a porta aberta (16:30). Convidamos para virem, entrarem e fazerem uma oração. Dentro do Coração da Mãe de Jesus, temos as mãos para servir, rezar e aprender a levar a mensagem aos que passam por ali.
"Entrem, fotografem com os olhos e não esqueçam de Jesus".
"Não precisamos ficar cegos para valorizar o que está tão perto de nós".
Meu amigo visionário nos ensinou a olhar e gravar tudo no coração, como fez Maria, a Mãe de Jesus.
Obs. As 3 fotos são cedidas pela artista e fotógrafa Gisele B. Alfaia - @giselealfaia
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