PETRA, MULHER DE VIDA DURA E O JUÍZO DE MUITOS SEM COMPAIXÃO
- peixotonelson
- há 5 dias
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Cruzei a ponte e deparei-me com uma cruz personificada em uma jovem mulher que chorava por seus filhos, como me contou. Chamava-se Petra. Ela já tinha recebido uma pedrada, bem diferente daquela mulher que Jesus livrou das mãos dos homens “justos” e críticos por defender pessoas adúlteras. A Petra deste fato estava com o coração amortecido e confuso, focada na dor e presa às consequências dos seus atos e do abandono do lar, que, na verdade, fora expulsa da casa onde morava por alguém que não mais a perdoaria.
Eu soube muito pouco acerca de sua história de vida. Afinal, foi um encontro relâmpago, cuja oportunidade perdi para ser solidário e interessado em ajudá-la. Mais fácil para mim era começar a perguntar se era imigrante ou refugiada sem moradia. Era uma dessas mulheres que, à primeira vista, vem à mente o preconceito e o juízo de ser preguiçosa, como muitos insultam certos migrantes.
Ouvira um comentário, entre pessoas que passaram por ela, que desconfiavam ser uma refugiada ou uma suspeita fugitiva da prisão feminina. Algo dentro de mim chamava para que me aproximasse dela, sem medo e sem preconceitos. Adiantei os passos para alcançá-la e perguntei quem era. Com a resposta carinhosa de um "não sei", ela logo fez seu pedido, em tom bem humilhado, querendo um trocado para tomar um café.
Antes de dar o dinheiro, começou minha curiosidade para saber algo a seu respeito. "Não tenho onde morar... estou por aí", disse-me. Intrigado e perplexo, fui ouvindo que antes morava com a irmã, mas brigara e fora expulsa de casa. Disse-me que já pensava em fazer qualquer coisa para voltar, por causa dos filhos pequenos que estavam desolados sem ela.
Depois de receber a ajuda em dinheiro, ela agradeceu e prometeu voltar a morar com os filhos, aguentar a rejeição da família e criar coragem de seguir a vida com eles.
Ela tinha consciência de que, se ficasse na rua com os filhos, moveria o coração de muita gente, mas poucos iam acreditar na sua história de vida. Suas perturbações faziam que dissesse e desdissesse os seus propósitos.
Não teria forças de seguir sua vida sem outra oportunidade de voltar para casa e ser aceita. A Petra não tinha o coração de pedra.
Reforcei o apelo para que voltasse para a casa e trocasse o conceito sobre si mesma. Não seria pedra (Petra), mas passaria a se entender como Flora, pois voltaria para junto dos filhos a cuidar deles, caso mudasse de vida.
Não entendi quais seriam as mudanças necessárias que a irmã estipulara como exigências para ela. Tentando acompanhá-la de longe, pedi e me deu o perfil do facebook de sua filha adolescente. Gostaria de conhecer detalhes para escrever o lado bonito de sua história, apesar das dores, frustrações e do pai de seus filhos.
Fiquei com a intenção de saber onde a FLORA dissera que sua irmã morava, da igreja onde fizera catequese e do ambiente festivo onde se criara. Comecei a especular, sem juízos ou preconceitos, como estaria vivendo nesses últimos dias. Ainda era uma jovem mulher, vestida como se voltasse de uma academia, não mostrando sinais de maltratos físicos, apenas um rosto cansado e deprimido. Devia ter entre 25 a 35 anos.
Confesso que começaram minhas suspeitas ou meras inferências da situação real ou fictícia a respeito dela. Os pensamentos avolumavam-se na minha cabeça, a ponto de fazer uma comparação com mulheres que entram no mundo das drogas, namoram traficantes, enquanto são bonitas ou antes de ficarem dependentes, definhando seus corpos e se tornando intoleráveis dentro da família até que as expulssem de casa.

Poderia ser bem diferente com a FLORA (ex-Petra)? Estaria escondendo sua identidade usando o perfil de sua filha? Perguntas assim faziam-me sentir cruel, medroso e impiedoso. Por contradição, chegava a mim o desejo de autoproteção e de irresponsabilidade perante a situação daquela mulher, "jogada à beira do caminho" ou a um passo do precipício. Estava pronta para ser "apedrejda" e acusada de bandida.
Em nome de um farisaísmo covarde, imaginei que tivesse sofrido violência de seus parceiros. Meu inconsciente apressava meus passos para deixá-la com suas feridas. Estava com medo de encontrar algum parceiro que me abordasse por que estava a conversar com ela. Era meu drama que, no momento, viria à tona, hesitando a segui-la por algum tempo na rua, ao contrário do samaritano que socorreu o pobre machucado à beira da estrada, em Lc 12, 33.
Entretanto, preferi meditar também na mulher adúltera, acusada para ser apedrejada. Melhor fez Jesus jogando sobre ela as flores da compaixão e da sua infinita Misericórdia (Jo. 8 1-11).
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