UM OLHAR DE MEMÓRIA NA ALDEIA DO CERRADO
Dia de sol, com a cobertura celeste de azul cintilante. Naquele cenário, flashes do filme de recordações vão se retornando aos meus olhos as imagens vivas do tempo passado que estavam adormecidas dentro de mim.
Aproximava-me das instalações da Aldeia SOS de Brasília, onde me dediquei, como gestor, por 12 anos, numa criativa busca de fidelização, atualização e sustentabilidade da Missão Organizacional no cerrado brasiliense.
A Escola Arvense, de nome tão floresta, toma a frente da Aldeia para simbolizar, junto com as atuais parcerias, que ali cresceram as sementes plantadas como árvores e deram frutos de cidadania, nos 50 anos, com os projetos de proteção, promoção e defesa dos direitos de crianças, que prosseguem, atual e diretamente, embora atualmente voltadas às famílias pobres do entorno do Distrito Federal e com a inserção cultural de famílias migrantes venezuelanas. Adentrei pela estrada lateral, passando por baixo do logo, vazado em ferro, que se eternizou em minha vida, como ferradura em meu coração. Mesmo depois de aposentado, vivo apaixonado pela Missão SOS, mas priorizando, dentro das famílias, os idosos e suas histórias de vida e de sabedoria. Passando por debaixo do logo, pensei no seu simbolismo que sempre me fala ao coração. Como um mergulho, feito por mim durante 26 anos, como ativista profissional.
É um logo que mostra a figura de duas crianças segurando uma flor apresentando-a como um sonho possível para a humanidade inteira: ser uma que protege as crianças e se sustenta sem a força das armas. Um paraíso ainda possível. Seguindo, ja dentro da Vila ou da Aldeia SOS, como a conhecemos, meus passos avançavam e o olhar percorria o conjunto das edificações. Constatava as mudanças bem oportunas em relação aos 10 anos anteriores, quando a deixei para retornar à gestão da Aldeia de Manaus.
Encontrei todas as edificações em uso, inclusive, a casa onde morei e meus filhos cresceram. O escritório da sede, onde madrugava escrevendo minhas falas, planejando e preparando-me para o dia de trabalho junto a minha equipe, virou uma cozinha da Escola Arvense. Se no meu tempo era centro de acolhimento, de diálogo e de formação humana, agora nutrindo crianças mais abastadas, nos inspiram ainda a lutar para que toda a fome seja superada e toda criança tenha um lar para crescer e ser feliz.
Encontrei com o porteiro chamado Pedro. Com esse nome, imaginava-me nos outros tempos quando ali viviam muitas crianças com mães sociais, acreditando ser um paraíso aberto de dignidade e proteção.
Conheci os colaboradores atuais dos projetos e me encontrei, por longo tempo com o Sérgio Marques, co-gestor nacional, que me atualizou das políticas organizacionais e dos desafios de sustentabilidade financeira. Como são muitas as edificações, a Escola Arvense, através de cessão onerosa de uso, contribui financeiramente para as ações assistenciais e promocionais das famílias, que são a razão de ser das Aldeias Infantis SOS Brasil. Neste dia, meu olhar deparou-se com muita beleza e bom gosto. A conservação das edificações, os jardins e os caminhos cuidados, sinalizaram-me que muito mais amor acontece na vida daqueles que são os destinatários da Missão SOS.
No final da conversa, aguardando a Patrícia Melo que foi gestora, depois de mim e deu continuidade a fazer a transição para o novo tempo, não pode chegar do seu trabalho de "home office" de coordenação do Programa dos Refugiados e nos encontrar.
Feliz e agradecido fiquei ao abraçar o Sérgio Marques e de ouvir o seguinte testemunho, mais ou menos nessas palavras: "Nelson, cuido bem deste "JARDIM DE DIREITOS" porque sei que tu muito o amaste e te dedicaste".
(NP - Maio/2023 - MÊS DA MÃE DE JESUS)
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