VIOLÊNCIAS E RESISTÊNCIAS - ESTRATÉGIAS, POSSE E MEDO.
Vou contar histórias sem precisar identificar locais e personagens, dando nomes fictícios, mas com fatos narrados que, infelizmente, poderemos ver como certo padrão de invasão, assalto, grilagem, violência e usurpação da terra de posseiros e indígenas.
"O barco se chamava Magá. Era de propriedade do Crissa, que encontrou resistência e não conseguiu tomar a terra do José. Só conseguiu se apoderar depois que este morreu".
O contador destas histórias, contadas e recontaas, me afirmou que outros lugares foram invadidos, lá pelas bandas dos outros lagos e rios.
Alguns posseiros perderam a terra, se subjugaram ou partiram em fuga para outros paragens. Provavelmente, foram para alguma praia nova nas várzeas baixas dos rios. Com a morte do Crissa, ficou o Antonio das Dores tomando conta. Desgostoso, deixou para o José Laranja cuidar. Depois é que ficou com os atuais ou possiveis grileiros. Dizem que umas dessas terras compraram, outras tomaram ou invadiram de forma suave, ou seja, vendendo mercadoria para os caboclos até a dívida estourar e tomarem a terra como pagamento. E contavam muito mais acerca de violências inimagináveis.
Havia um indígena, criado pelo Masmorra, que era um bom caçador. Na única vez que foi para o mato, depois da caçada, não trazendo nada, é insultado pelo filho, e na briga entre os dois, o índio pega o rifle e o mata. O Masmorra enterra o filho e resolve trazer o indígena amarrado no seu batelão até a cidade. No caminho das águas, encontra o Juca Cabelo, que é de opinião de que seus carrascos tirem uma tora de piranheira bem pesada, amarrem o "índio" e o lancem na parte profunda do lago, onde morava uma cobra grande. E assim fizeram seus carrascos à vista de todos. Aconteceu que o "índio" boiou e foi visto. O Zé Berno passou por lá, guardou a tora para mostrar o crime bárbaro dos patrões Masmorra e Juca Cabelo. Não se sabe como a tora boiou com o morto amarrado. Talvez pensassem na bondade animal da cobra grande em contraste com a maldade do bicho "gente".
Apesar de tanta violência, neste cenário de muita beleza natural, sempre ocorreram casos de resistência que tambm gerav violência. Destaco algumas rsistências pacíficas. Os fregueses colocavam paneiros de castanha na quilha das canoas, pendurando-os com pregos retorcidos, enquanto eram levados de reboque no barco do próprio patrão. Assim, a vida seguia. Mas havia atualização de formas de exploração e de resistências.
Patrões combinavam assim: os ouriços caídos fora da época, ou seja, com atraso, pertenciam ao freguês, que podia vender livremente. A essa sobra chamavam de basculho. Entretanto, conheci um capataz que entrevistei, que me dizia saber observar tão bem as florações das castanheiras que calculava a quantidade da produção em hectolitros. Assim, usava esta "lenda" para amedrontar os fregueses e antecipar a proibição de vender para outros patrões ou deixar escondido na floresta para que fosse considerado como basculho livre para vender a quem quisessem.
Enquanto isso, a cotia se encarregava de fazer a plantação de novas castanheiras. Escondiam e se esqueciam por onde deixavam. Anos mais tarde, eram novas castanheiras, razões de mais exploração e apropriação do trabalho e mais resistências.
(As fotos aqui neste blog são créditos de Gisele Braga Alfaia) @giselealfaia
(NP)
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